Os passos tortos dos freios no estacionar. Fecha o livro e entra na multidão.Desce entre as pessoas com pressa de chegar. Corre sem olhar para lado algum para entrar no ônibus lotado de gente que vai.
Esquece a bolsa aberta e pega de volta o livro, se equilibra para ler. Entre frases e quebra-molas também se pode entender. Cada qual se entrete da maneira que der. Tem gente dormindo, com fones de ouvido, falando com a mãe, com o namorado. Gente falando com gente que só vê no amanhecer e só volta a ver quando o sono vem, deixando tempo para um abraço.
Nas curvas se equilibra, se segura pra não desabar. Os pés de motoristas estressados pesam para acelerar. Tudo tem horário pra anotar, naquele caderninho do fiscal.
Nos sinais os cobradores flertam com moças cansadas, sensíveis esperando um simples olhar. Esquecidas nos balcões de madeira boa enquanto o sol se mostra, escondendo rostos e aspirações.
Corre, passa e ultrapassa. Desvia de cão e buraco. Sobe o morro que faz o motor reclamar. Os faróis iluminam as faixas brancas no meio do cinza, que ficam para trás na vertigem veloz.
Levanta o leitor das lotações e aciona o sinal. Percebe um idoso repetindo o gesto, e fica sem entender a repetição, até reparar um pequeno dispositivo atrás das orelhas, que o faz ouvir o pouco que lhe basta perto do muito que nem nos importamos. Abre a porta barulhenta para deixar passar, quem passou o dia todo fingindo respirar, imaginando nas horas que terá no sofá, antes de cair em sono sem se importar, com o jornal ou com a fome que já nem mais grita, e acorda quando o narrador avisa que foi gol do adversário. Levanta, fuma e admira o nada na janela. Espera o travesseiro ser o recanto onde finalmente possa apagar, até tudo, feito um ciclo espinhoso, recomeçar.
Difícil é tomar notas, já dizia Ivan Lessa. As etc's todo mundo diz. A questão é saber-se livre para falar absurdos e canções de ninar ponto final
29.4.13
19.4.13
Infinitos
Miragens
de felicidade são coladas nos muros dos colégios. Os carros passam e deixam
fumaça. Os sapos saltam nos pântanos úmidos das florestas livres. Um circuito
pequeno de tempo relata aos autos da vida diversas manifestações de existência,
simples ao olhar e altamente complexas pelas lentes que ampliam a ordenada
sequencia microscópica. Somos seres gigantes povoados de milhões de miniaturas
que nos moldam, desenvolvem e fazem respirar.
Páginas
são passadas, livros são lidos. Mentes são construídas, novos caminhos no
cérebro são abertos como clareiras em densas florestas. Toda confusão cede
espaço ao conhecimento, ao raciocínio. Uma mistura de caos e virtudes
adquiridas nos formam, dia após dia. Queremos escrever, queremos falar. Somos o
que soamos ao longo dos minutos. Nada mais nos resume senão o infinito campo do
ser.
Existimos.
A frase se encerra assim. Não existe conceituação mais digna de reflexão. Até
onde existiremos se dará por bases biológicas e sociais. Andamos sempre como
vítimas sem resgate dos constantes sequestros, seja através dos governos,
delinquentes ou de nós mesmos. Nos refugiamos de guerras que não lutamos.
Tudo
o que sabemos é que somos tudo que sabemos. Somos livros em branco,
infindáveis. Nossa história não deixa de ser escrita quando acaba a tinta. Por
mais finitos que sejamos, somos eternos, e para sempre, seremos falados.
3.4.13
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