6.5.13

Caminhos

Qual o tamanho do mistério que podemos suportar?
O mundo é regido por falsas certezas e por dores verdadeiras. Nos baseamos onde sentimos mais identificação. Nem sempre queremos sorrir, nem sempre chorar.
Decidimos o caminho da escolha por instinto. A forma que nos encontramos no momento definirá sempre os segundos seguintes, como uma caminhada em um bosque que nos oferece duas passagens.
Uma delas nos levará à beira do rio, com ventos frios, para enxergarmos a margem além da água que não podemos atingir.
A outra nos leva até a mata fechada, cheia de desvios, galhos secos na altura dos olhos, animais perigosos e pouca visão.
Nenhuma delas nos conduzirá a nada, a lugar nenhum, se não tivermos como abrir uma lareira ou uma canoa para nos conduzir mais longe.
A vida é um mistério raso. Profundo e raso. Podemos nos afogar ou nos enxergar.
Abrimos os olhos todos os dias sem conhecer o que há.
Andamos pelas ruas pensando que sabemos.
Não sabemos nada, a não ser a certeza do segundo seguinte, que nos concederá um passo a mais.
E passo a passo seguimos nossa desconhecida existência, para o nosso sempre.

29.4.13

Vida de passageiro de vida

Os passos tortos dos freios no estacionar. Fecha o livro e entra na multidão.Desce entre as pessoas com pressa de chegar. Corre sem olhar para lado algum para entrar no ônibus lotado de gente que vai.
Esquece a bolsa aberta e pega de volta o livro, se equilibra para ler. Entre frases e quebra-molas também se pode entender. Cada qual se entrete da maneira que der. Tem gente dormindo, com fones de ouvido, falando com a mãe, com o namorado. Gente falando com gente que só vê no amanhecer e só volta a ver quando o sono vem, deixando tempo para um abraço.
Nas curvas se equilibra, se segura pra não desabar. Os pés de motoristas estressados pesam para acelerar. Tudo tem horário pra anotar, naquele caderninho do fiscal.
Nos sinais os cobradores flertam com moças cansadas, sensíveis esperando um simples olhar. Esquecidas nos balcões de madeira boa enquanto o sol se mostra, escondendo rostos e aspirações.
Corre, passa e ultrapassa. Desvia de cão e buraco. Sobe o morro que faz o motor reclamar. Os faróis iluminam as faixas brancas no meio do cinza, que ficam para trás na vertigem veloz.
Levanta o leitor das lotações e aciona o sinal. Percebe um idoso repetindo o gesto, e fica sem entender a repetição, até reparar um pequeno dispositivo atrás das orelhas, que o faz ouvir o pouco que lhe basta perto do muito que nem nos importamos. Abre a porta barulhenta para deixar passar, quem passou o dia todo fingindo respirar, imaginando nas horas que terá no sofá, antes de cair em sono sem se importar, com o jornal ou com a fome que já nem mais grita, e acorda quando o narrador avisa que foi gol do adversário. Levanta, fuma e admira o nada na janela. Espera o travesseiro ser o recanto onde finalmente possa apagar, até tudo, feito um ciclo espinhoso, recomeçar.

19.4.13

Infinitos


Miragens de felicidade são coladas nos muros dos colégios. Os carros passam e deixam fumaça. Os sapos saltam nos pântanos úmidos das florestas livres. Um circuito pequeno de tempo relata aos autos da vida diversas manifestações de existência, simples ao olhar e altamente complexas pelas lentes que ampliam a ordenada sequencia microscópica. Somos seres gigantes povoados de milhões de miniaturas que nos moldam, desenvolvem e fazem respirar.
Páginas são passadas, livros são lidos. Mentes são construídas, novos caminhos no cérebro são abertos como clareiras em densas florestas. Toda confusão cede espaço ao conhecimento, ao raciocínio. Uma mistura de caos e virtudes adquiridas nos formam, dia após dia. Queremos escrever, queremos falar. Somos o que soamos ao longo dos minutos. Nada mais nos resume senão o infinito campo do ser.
Existimos. A frase se encerra assim. Não existe conceituação mais digna de reflexão. Até onde existiremos se dará por bases biológicas e sociais. Andamos sempre como vítimas sem resgate dos constantes sequestros, seja através dos governos, delinquentes ou de nós mesmos. Nos refugiamos de guerras que não lutamos.
Tudo o que sabemos é que somos tudo que sabemos. Somos livros em branco, infindáveis. Nossa história não deixa de ser escrita quando acaba a tinta. Por mais finitos que sejamos, somos eternos, e para sempre, seremos falados.

3.4.13

Da natureza

Circulam boatos de neve
Ao sul se pode notar
As rosas geladas que caem
Então sabe-se bem
Que o verão se foi ao sul
Atravessa mares e trópicos
Esquenta areias claras
O sol é presente ao hemisfério
As nuvens crescem e caem
Em gotas frescas na terra
Resfriando o veraneio tardar

25.3.13

Coragem


Desde os tempos do colegial era visto pelos colegas como alguém sem nenhuma vocação para o surpreendente. Perdia os dias limpando as pratarias da avó em troca de algumas moedas. Quando estava em casa, a mãe gostava sempre de ressaltar o quanto ele era vazio, ausente de qualquer vontade própria. Nas terapias escolares para definir a orientação profissional, os resultados eram divergentes, tendendo à coisa nenhuma. Nem os colegas e professores pensavam que ele seria coisa alguma.
Com os dias mais ociosos sem a escola, começou a ajudar o senhor da livraria, que lhe dava alguns vinténs por semana. De ausência pouco notada em casa, passava os dias na rua, tirando a neve de calçadas, lavando carros, fazendo compras e indo aos bancos. Não comprava comida, pois sempre alguém lhe oferecia. 
Foi assim durante os últimos meses do ano até o natal. Como já esperava, nenhum presente lhe foi dado. O pai foi para o bar na noite de véspera enquanto a mãe reunia na sala as viúvas para tomar chá e comer uvas. Ele foi pra rua trabalhar levando os assados que ficavam prontos na padaria.
Na manhã do primeiro dia do ano, pôs-se a pensar que tudo seria do mesmo jeito. E que nada podia fazer. Errado.
Talves os pais não soubessem do que ele havia juntado até então. Era uma quantia razoável, pois trabalhara bastante e não gastou uma moeda sequer. Como num impulso, pegou a bolsa que usava no colégio e colocou as roupas dobradas nela, junto com alguns documentos, dois livros e duas fotografias. Saiu de casa com a bolsa e todo dinheiro economizado e foi diretamente para a estação, sem saber o porquê. Comprou uma passagem para a capital e ficou esperando, sentado na ala de embarque, com as pernas trêmulas. O trem encostou, as portas se abriram e tudo o que fez foi correr para dentro sem olhar para trás, sem se deixar pensar. Se acomodou numa poltrona na janela, fechou os olhos, e quando o trem saiu foi-se embora com ele para onde não sabia o que ia ser. Só sabia que teve naquela manhã a coragem que todos julgavam que ele jamais teria. Deixou as desconfianças e o mundo para trás e foi em busca do desconhecido. Quando o trem passou pelo arco de rosas, que exaltava uma mensagem se despedindo da cidade, sentiu-se feliz e leve como jamais. Estava sem rumo, mas estava livre, e um homem livre pode ser o que quiser, basta coragem.

19.3.13

Desejo

Um cínico pode te dizer que já sabe o que fazer. Vai tirar as roupas coloridas do lugar, sem medo de se importar. Vai ter gente buscando fruta no pomar, gente levantando peso sem parar. Todos sonham com um lugar para ter e para acordar. Todos sonham acordar onde antes foram sonhar.
Já passei por ruas e desejei morar em janelas apertadas, do quinto andar. Passava em frente a repartições e pensava como seria trabalhar lá. O mundo distinto formado dentro de cada pedaço de espaço me fascinava.
Um mendigo quando passa por um restaurante deseja um prato de comida, quando passa pelo bar, deveria desejar um salgado, mas deseja uma dose que vai transformar sem mundo menos feio e seu frio menos trêmulo. Todos temos desejos que não podemos ter, mas que não podemos deixar de desejar.
Somos formados por desejos consequentes e inconsequentes. Não escolhemos querer, apenas queremos.
Um jovem que termina o colegial deseja a faculdade, para desejar a profissão, para desejar mais dinheiro para financiar mais desejos. Ninguém pode culpá-lo. Ele é fruto de si mesmo, fruto de suas vontades, e aquele que o julgar hipócrita será, pois tem tantos desejos e ambições quanto ele. Suprimos nossa necessidade de nos conformar com nossa situação momentânea com apontamentos inoportunos das possíveis falhas morais alheias. Nos justificamos quando estamos certos, e mais ainda quando erramos.
Tudo isso é humano, é nosso. Nem certo, nem errado. Somos um querer constante, comparações e criticas constantes. Criticar o outro por ser crítico não é redundante, é instinto. Somos caos.

17.3.13

Rotina.

Atento, em disparada, sigo sem olhar.
Todos os indícios de fuga se concretizaram.
Já passa das oito.
Nenhum carro ainda veio buscar as caixas.
A música do bar do outro lado da avenida é legal.
E um céu que parecia azul já beira o cinzento.
Os refúgios tem suas portas abertas.
Encarcerados fogem para onde enxergam.
Não sabem onde estão, mas fogem.
A polícia fez o boletim, e liberou o acusado.
Na lareira os documentos promovem brasa.
Na chaleira a água quente exala cheiro de nada.
Na xícara folhas tem destino triste.
Na TV um filme de 1946.
No sofá ninguém assiste.
O carro passou e buscou as caixas.
As vítimas voltaram para seus cativeiros.
O chá está pronto.
O filme ainda não terminou.

16.3.13

Eu já tive um jardim

Camila caminhava pelo morro da rua do Padre. Descia correndo as calçadas traçadas de grama e cimento. Esqueceu as chaves e se aborreceu pois teria de novo que gritar para que sua mãe abrisse o portão, mas poucos segundos apenas a incomodaram com isso.A chuva de agora pouco desenhava corredeiras em miniaturas pelos cantos da ladeira. Uma folha grande descia como uma canoa em cachoeiras. Talvez houvessem formigas fazendo papel de amantes de vida perigosa.
Queria ir até a padaria, e estava quase chegando. Mas uma visão a perturbou. Do outro lado da rua, deitada em um muro de chapisco, estava uma mulher. Roupas sujas, cabelo molhado e triste, lia um jornal que tinha servido de cobertor na madrugada, e agora estava molhado do temporal de antes. Decidiu sem perceber que atravessaria a rua. Se aproximou vagarosamente e perguntou à mulher se ela gostaria de um pão. Ainda terminando uma frase de uma reportagem, a mendiga finalmente deu atenção para a jovem, bem apessoada e perfumada logo pela manhã que se apresentava a sua frente. Sem responder a nada, confessou para a menina que seu nome era Rita.
Camila reiterou o pedido, e ouviu uma negativa.
Rita disse que, se tal bondade houvesse no coração que trouxesse uma dose dupla de café quente.
Sem esperar mais, Camila entrou na padaria e voltou com duas sacolas que levaria para casa, e um copo de café grande, saindo fumaça. Entregou para Rita.
A mulher agradeceu, e desejou bom dia para Camila.
Apesar da menção de sair, ela retornou e, não resistindo, perguntou a mulher porque ela estava alí, naquela situação. Rita interrompeu um belo gole de café e respondeu, com simpatia:
- Nem sempre estamos onde queremos, querida. Eu tinha família, um jardim e uma padaria para comprar pão. Mas também tive o poder da escolha, e as que fiz me trouxeram para essa calçada, ou para essas ruas, onde vivo já há três anos. Não vou perder meu tempo te explicando o que houve pois daqui a pouco recebo um pão com manteiga no bar da rua lá do alto, e muito menos desperdiçar o seu, você sequer ainda tem opções para escolher. Volte para sua casa, tome seu café e também tome as decisões certas.
Camila voltou para casa em passos rápidos, pois uma nova onda de chuva se anunciava. Não parou de pensar por nenhum segundo nas escolhas de Rita. E dali em diante, passou a prestar muito mais atenção nas suas. Percebeu que a vida nada mais é do que o resultado de decisões, e que isso formava, todos os dias, advogados, políticos e moradores de rua.

13.3.13

Mera diferença


Não acredito que tenhamos que nos adaptar a alguma coisa ruim, passageira. Para mim isso não envolve adaptação. É melhor colocado como algo que devamos suportar.
Pensando nisso hoje (com motivos para chegar a essa linha de pensamento) percebi que podemos nos adaptar a uma perda, a uma dor constante, a um uso rotineiro, como óculos, cadeira de rodas, pois são coisas incrustadas em nossa vida, na qual seja o que for não poderemos simplesmente nos livrarmos delas.
Vizinhos chatos, chefes odiosos, colegas de trabalho inúteis e causadores de transtorno são meros ventos empoeirados que passam, e vão embora. Nós só temos de fechar os olhos e esperar a poeira se dissipar, não sendo necessário nos adaptarmos a ela.
Esta é a melhor forma de tratar das coisas que povoam nosso cotidiano recheado de receios, medos e inseguranças. Temos de ter a consciência de que o que não queremos para nossa vida, é simplesmente passageiro, se vai.
Se enxergássemos mais desta forma sofreríamos menos, porém a ansiedade de transformar o agora nos agonia, pois não é humano querer o depois, e se contentar com isso. Por mais que tenhamos uma certeza de um futuro mais acolhedor e seguro, nos apegamos ao amargo e sempre instável presente.
É o que somos. Sem mais.

9.3.13

Páginas de nós


Miragens de felicidade são coladas nos muros dos colégios. Os carros passam e deixam fumaça. Os sapos saltam nos pântanos úmidos das florestas livres. Um circuito pequeno de tempo relata aos autos da vida diversas manifestações de existência, simples ao olhar e altamente complexas pelas lentes que ampliam a ordenada sequencia microscópica. Somos seres gigantes povoados de milhões de miniaturas que nos moldam, desenvolvem e fazem respirar.
Páginas são passadas, livros são lidos. Mentes são construídas, novos caminhos no cérebro são abertos como clareiras em densas florestas. Toda confusão cede espaço ao conhecimento, ao raciocínio. Uma mistura de caos e virtudes adquiridas nos formam, dia após dia. Queremos escrever, queremos falar. Somos o que soamos ao longo dos minutos. Nada mais nos resume senão o infinito campo do ser.
Existimos. A frase se encerra assim. Não existe conceituação mais digna de reflexão. Até onde existiremos se dará por bases biológicas e sociais. Andamos sempre como vítimas sem resgate dos constantes sequestros, seja através dos governos, delinquentes ou de nós mesmos. Nos refugiamos de guerras que não lutamos.
Tudo o que sabemos é que somos tudo que sabemos. Somos livros em branco, infindáveis. Nossa história não deixa de ser escrita quando acaba a tinta. Por mais finitos que sejamos, somos eternos, e para sempre, seremos falados.

5.3.13

Parágrafos de vida


Livros, notas musicais.
O tempo transforma aquilo que quero.
Algumas coisas mudam, e outras permanecem.
Os discos tocados são os mesmos de dois anos atrás.
As capas, brancas, entreolham-se temendo o iminente amarelo.
E lugares se vão para nunca mais.
Pessoas serão esquecidas. Na memória intactas porém inativas.
As vontades? Algumas se mantém.
Páginas em branco e um lugar tranquilo ainda excitam, deslumbram e fazem sonhar.
Na verdade a gente vive a vida como se tem.
Torcemos para um parto lento do sol e uma morte rápida.
Afinal o sol morre e nós que deitamos.
Os lugares mudam sempre, porém o vento e a chuva perseguem fazendo pensar.
E os velhos desejos, não importa o tempo, sempre terão tempo para serem novos, enquanto eu respirar.

4.3.13

Outside


Fugiu do retiro psiquiátrico quando dona Carmem abriu os portões pra jogar o lixo. O vestido agarrou no latão, atrasando o retorno da monitora.
Saiu saltitante feito um animal descontrolado. Molhou os pés na lagoa, assobiou Mozart para um casal de namorados, deu tchau para uma criança e foi correspondido.
Na cidade viu motoristas se xingando, pessoas correndo, e nos jornais homens se matando. Deu risada. Parou na Cantina da Esquina e pediu um café. Estava bem arrumado pelas meninas do turno anterior. Camisa abotoada corretamente, sapato de camurça sem cadarço e calça marrom. Tomou o café vagarosamente, fingiu ler os jornais e pareceu interessado olhando pra TV. Estava ligada, mas é como se não estivesse.
Saiu, comprou livros, de Erasmo à Heminghway. Foi andando pelas ruas, se equilibrando em meios fios, até chegar na praça. Com frio, se encolheu enquanto lia. Não entendeu muita coisa do tal que falava de loucura. Andou mais.
Chegou aos limites da cidade. Pediu carona. Ganhou. Nunca mais se viu.
Foi viver a sua loucura, onde se encontram a maior parte daqueles que são como ele: do lado de fora.

3.3.13

Ponteiros

A camisa dele era uma daquelas listradas, entre o social e o esporte fino. Ela usava uma regata vermelha por cima de uma camiseta azul. Adora criar estilos. Estavam juntos havia alguns minutos, talvez uns 20. Ele queria se aproximar do cabelo dela, que cheirava maravilhosamente. Ela queria sentir a pele aquecida do braço dele, em uma sensação de segurança. Eles estavam conectados.
Ele logo precisava ir embora. A passagem já estava no bolso direito da calça, e ela preferia não se lembrar. Ainda haviam, sei lá, 15 minutos para ficarem ali, sentados naquele banco de pedra da rodoviária. Ele voltaria para sua rotina na cidade maior, e ela apenas iria seguir a dela na cidade pequena. O tempo voava tão depressa que parecia que pessoas adiantavam o relógio de algum lugar.
Eles não sabiam se estavam apaixonados. A única certeza de ambos era que estavam onde queriam estar. E que aquelas poucas centenas de segundos seria todo o motivo da saudade na hora seguinte.
Ele sempre prometeu voltar, e ele sempre volta. Ela promete que vai esperar, e sempre não vê a hora de chegar ao fim toda espera que conta, riscando os dias no calendário, na esperança de dormir e ver os dias correrem feito pássaros.
Cada instante longe do complemento é um dia lento, e cada minuto ao lado do que se completa o vento leva. E a vida segue sendo um apanhado de momentos, sonhos, e experiências rotineiras. Nem sempre se chora e nem sempre se pode sorrir. Mas o mais importante é sempre estar disposto a valorizar a oportunidade de poder esperar por alguém ou pelo sonho que um dia vem.

2.3.13

Coisa de destino


Tudo era normal até encontrar a loucura. Isso é fato consumado.
Passeava normalmente com sua roupa listrada e seu sorriso farto, livre.
Nem imaginaria o destino que estava prestes a lhe atacar. Algo ruim, surpreendente?
Não. A esquina.
Nem todo destino é ruim, ou precisa trazer mudanças radicais.
O passo seguinte do caminho para o trabalho se consuma como destino.
É o que vem depois, o que está além do agora, ou seja, é o segundo e século seguinte.
Poetizar é fácil. Difícil é se encontrar na poesia.
Ninguém espera por amores, vitórias e troféus.
Ninguém quer saber do destino. Esperar significa ter paciência.
Pessoas esperam a década seguinte, sem se ver no dia que nascerá.
A conta é simples e vai fazer chorar.
Viva seu dia, programe sua vida, mas nunca, a Deus dará.

1.3.13

Aprendendo



Cada coisa merece um sentido específico. Nem sempre somos nós que podemos defini-los. O universo se encarrega de conceituar o que sentimos, o que enxergamos. A ciência prova que estão certos.
Desenvolvemos orgulho, percepção, consciência das coisas dos arredores, e o corpo se encarrega de cobrar os fardos. Ficamos ansiosos, receosos e tristes, sem saber o que se passa.
Porém quanto mais pararmos para compreender quem somos e o que fazemos aqui menos tempo teremos para viver histórias para um dia lembrar e contar.
Por mais que pareça que a vida não tem valor, quando assistimos o noticiário onde vemos 3, 5, 27 mortos. vidas se abreviam e nos importamos pouco. É natural. Lamentamos por 3 segundos vidas que cessaram e duraram 60 anos.
Os dias não passam lentos. Somos nós que somos ansiosos para que as coisas aconteçam logo, e uma hora parece durar um dia. Mas não adianta. Tudo tem seu tempo certo, e vem no momento que tem que vir. 
O mundo fala várias línguas mas todos se fazem entender em uma coisa: qualquer um quer ser feliz e tenta chegar nessa condição. E diferente da linguagem, isso não se aprende em nenhuma escola. Assim como não aprendemos falar inglês sem tentarmos, ninguém vai ser feliz repassando as lições de como ser infeliz.

28.2.13

Cafézinho


- É chato ver um time da grandeza do Corinthians jogar sem sua torcida. E mais chato é ver determinados torcedores e diretores considerarem a punição injusta, radical. A regra foi seguida, e uma vida foi perdida. Para a família do menino morto, pode-se fechar os portões de todos os jogos pelos próximos dez anos, que não fará nenhuma diferença. E, convenhamos, aquele conto de fadas que foi o menor se apresentando e assumindo que disparou o sinalizador é piada.

- E eu que pensava que o PSD de Kassab seria uma opção no mínimo diferente, já vejo nos jornais o partido ganhando regalias e posições do governo em troca do apoio à reeleição de Dilma. É tudo igual.

- Eu trocava o Paulo Maluf por um ingresso pra ter assistido Elton John ontem em São Paulo. Como sempre, de costume, parece que o ídolo arrasou em sua apresentação, sempre alegre e cheia de energia.

- O SBT vai fazer um remake de Chiquititas. Me lembro até hoje da minha fascinação pela novela, em sua primeira versão. Ainda com inocência, me sentava no mesmo sofá, todas as noites, com um pacote de biscoitos de chocolate branco para assistir. Bons tempos.

- Tem embaixador na OEA dizendo que tem fontes seguras que confirmam a morte de Hugo Chávez. Não obstante, diz que Chávez tem morte cerebral desde dezembro de 2012, e que as filhas solicitaram na última semana que fossem desligados os aparelhos que mantinham o pai "vivo". A foto com as filhas divulgada na imprensa? Falsa. Será o fim do Chavismo?

27.2.13

Fantasias e fugas


A condenação de viver somente a realidade seria uma das mais duras penas, se não fosse o fato de possuirmos uma mente que nos eleva a outros patamares quando necessário. Não é possível apenas ser o que somos e viver o que vivemos. Uma "realidade alternativa" se faz necessária para que possamos nos desligar. Por mais ridícula e infantil que seja, uma fantasia deve haver e habitar nossas vidas tão sérias e cheias de coisas importantes. Se não nos dermos ao luxo de flashes de loucura programada, ou de simplesmente algo fora do normal, podemos facilmente pifar, e nem sempre custa barato o conserto.
A sociedade se acostumou a viver em linha reta, onde não há espaço para desvios, trajetos que nos levem ao desconhecido, algo que saia de nossa rotina. A forma mais encontrada pelo humano de se "desconectar" é a inserção quase que compulsória de entorpecentes, incluindo em destaque as bebidas alcoólicas. A fuga da vida real é tentada através dessa perda momentânea da consciência, que impede ao menos por instantes que possamos pensar no que é realmente necessário. Pessoalmente acho esta a mais suja  e degradante forma que o homem encontra para se esconder. Não poderemos nunca ignorar o que somos e o que temos que ser e fazer, mas distorcer nossa imagem perante nossa comunidade não se mostra viável, muitas vezes nos nomeando como fracos e impossibilitados de lidar com os problemas.
E assim somos e é certeza que, oculta ou não, sofremos do mal da fraqueza. A diferença é a forma com que cada qual se sente e reage sendo fraco, sendo um simples e complicado ser que vive.

26.2.13

Sem surpresas!

Era dia 20 de fevereiro de 2013. O PT celebrava os dez anos na Presidência da República (oito de Lula e dois de Dilma). Estavam presentes diversas "personalidades" políticas ligadas ao Partido dos Trabalhadores e à esquerda brasileira. Entre essas personalidades, Lula, ex-presidente, Dilma Rousseff, atual presidente, além da ilustre presença de mensaleiros condenados, como José Dirceu.
Naquela noite, descobrimos desde já, mais de um ano e meio antes das Eleições 2014, quem será o candidato eleito. Acabaram as expectativas da oposição.
"A resposta que o PT deve dar [à oposição] é dizer que eles podem se preparar, podem juntar quem eles quiserem e que, se eles tem dúvida, nós vamos dar como resposta a eles a reeleição da presidente Dilma em 2014."
Essas palavras partiram de Lula, que, segundo o seu antecessor no Planalto, Fernando Henrique Cardoso, trabalha ocultamente (ou nem tanto) como presidente adjunto.
É possível notar no tom do discurso do petista a prepotência declarada, característica típica do PT desde 2002. Segundo suas palavras, que Dilma tome logo posse para mais quatro anos. Como ressaltou Lula, não existe o que possa ser feito pela oposição. Então que não desperdice o nosso tempo.
É com severa tristeza que os defensores dos princípios democráticos enxergam todos os dias demonstrações como esta partindo da ala governista. É um dos perigos claros de uma casta política que apoia a ditadura cubana, celebra a perpetuação no poder e que, como já sabemos, já está assegurada para 2014.
 

25.2.13

Conselheiro de botequim

Seria mais conveniente assumir percalços do que ocultá-los e se sujeitar ao erro novamente. A vida, assim como a história que contamos, é construída de forma temporal, onde cometemos erros e achamos que cometemos acertos. Se fecharmos os olhos para os pontos negros do passeio, estaremos condenados a repetir tudo de ruim que nos assola. Deve-se tornar isso hábito. O tempo de hoje é o único tempo. Pensamos no futuro e lamentamos o passado de forma a imobilizar o presente. Pessoas lamentam que leram 5 livros nos últimos 5 anos, mas se persistirem lamentando não haverá muitas perspectivas de aumento desse número. A conta é simples: se não tem nada, tenha algo. Se ainda não começou a ler, comece. Se não tem dinheiro, junte. Se o primeiro passo não for consumado, o restante do caminho parecerá eterno, e completamente estafante.

24.2.13

Os bons e antigos tempos


Costumes e peculiaridades se perdem pelo tempo. Rotinas são esquecidas, pequenas atitudes, transpassadas. O moderno e o dinâmico tomaram o lugar da calmaria de uma simples caminhada pelas calçadas. Hoje perdura a cultura da pressa, do prazo definido, da loucura diária.
Tempos onde se perdiam horas em um café, uma conversa despretensiosa com um amigo ou conhecido, hoje já não existem mais.
Apesar de ter relativamente pouco tempo vivido, noto que uma certa gentileza se perdeu por entre os dedos. Visitas se tornaram mais formais, pessoas fogem de vizinhos nas ruas correndo o "risco" de terem que submeter à simpatia. Estamos num tempo de solidão, de pequenas fugas durante o dia.
O que mais demonstra esse quadro é o elo que une em quase todos os casos pessoas para se confraternizarem: o alcóol.
Só se reune ou se marca algo hoje em dia com a finalidade de beber, gastar dinheiro com caixas de cerveja, destilados, combinações, tudo baseado no etanol.
Sei que não posso generalizar. Faço parte de um seletivo de pessoas que se reúnem, compram a Fanta Uva, faz uma pipoca e vai passar o tempo em jogos de tabuleiro, ou assistindo um bom filme. Manter esses hábitos é essencial para o reforçamento de amizades, cada vez mais extintas em sua forma real, e também para mostrar ao mundo que é possível viver de forma serena e com bons hábitos, sem a necessidade cada vez maior de estar alterado quimicamente.
Meu vício é somente o da droga da tranquilidade, queimo apenas o tempo e cheiro apenas a presença de boa companhia.

23.2.13

Gritaria dos infelizes

Não adianta espernear
Nem chamar a polícia 
Fez as compras para o jantar
Sem saber se sequer vai levantar
Da cadeira que confortavelmente
Despenca em ilusões passadas
Infelicidade parda
Sem fome, sem sede, sem nada
Na cozinha a velha retardada
Finge que se jogou da escada
Passou molho de tomate na testa
Pra sensibilizar
Mal sabia ela que o povo dali
Não queria saber de nada
O jantar estava pronto
E a mesa seguia vazia
Assim como a vida da família
Infeliz que muda sorria
Sufocante sem gritar

22.2.13

Minha verdade

"A maioria das pessoas quer apenas comprar, divertir-se, ter uma autoestima alta, gozar livremente, não sentir culpa alguma; enfim, ter uma vida moral de criança de dez anos de idade." 
Pondé


Polemizando.

Sempre defendo o direito individual de cada um ser o que bem entender. Isso é legítimo, é direito. Seja em religião, esportes, política. Cada um tem o direito de ser o que quiser, exercer militância para esta ou aquela ideologia, se, seus atos não ferirem o direito individual alheio e não for conivente e entusiasta de ideias que sejam passíveis de punição.
Crer em Deus é escolha, é fé.
Se basear unicamente na ciência é sempre o primeiro argumento para aqueles que encontram no racionalismo suas explicações. Não acreditar em Deus é direito, é posicionamento. Tentar convencer o outro desse ponto de vista também não é crime. Mas o ouvinte precisa estar interessado em ouvir.
Se alguém é católico, evangélico, budista, espírita ou Testemunha de Jeová, é permitido também a liberdade de crença. Se um crente em Deus quer tentar mostrar as razões que o fazem crer a alguém que não acredita também é legítimo, novamente, se o ouvinte quiser ouvir, dar atenção.
Insultar e fazer brincadeira QUE OFENDA qualquer religião é indevido, crime. Atenta contra a liberdade religiosa. Casos como o "Aleluia, irmão" ou no caso dos ateus a máxima do "ateu até o avião cair" são inofensivas, não ferem, em minha opinião.
Meu posicionamento sobre não acreditar em Deus, ou em nada: Algumas pessoas podem sofrer processos em suas vidas que desqualifiquem a possibilidade da existência de algo maior, olhando por todos. Se sentem desamparados, sem suporte de um Deus, de nada. Essa decepção terrena mina as possibilidades do acreditar.
Outro aspecto: Vejo constantemente pessoas com todas as características de um comportamento corriqueiro hoje em dia. A descrença em Deus se dá por motivos secundários, buscando total liberdade para imoralidades, ausência de culpa, como se não houvesse nada vigiando os atos do dia-a-dia, permitindo, dessa forma, fazer o que bem entenderem. Mais típico de adolescentes e adultos travestidos destes.
Isso é ponto de vista, e não verdade. É a minha verdade, não precisa ser a sua.


21.2.13

Cafézinho


- Caçambas sempre são vistas pelas ruas próximo de obras ou terrenos baldios, acredito que com o intuito de não acumular entulhos nas calçadas. Mas o que mais me chamou a atenção ontem foi o aviso em uma delas: PROIBIDO JOGAR LIXO DOMÉSTICO. A proibição é válida, já que essa não é a finalidade da caçamba, mas, será que existe alguma forma de coibir isso? Achei insensato.

- Alguém mais tem a sensação de que todo esse fervor pelas assinaturas para tirar o Canalheiros não vai dar em absolutamente nada?

- Neymar continua dando o que falar. Agora o pica-pau santista resolveu, através de seu representante, destratar o maior ídolo da história do Santos e conhecido como melhor jogador de todos os tempos, o tal do Pelé. Humilde que só, ao perceber quer não consegue dominar a todos com o seu "carisma", resta a ele atirar pra todo lado, enquanto cai desesperado quando lhe encostam em campo e namora a Bruna  Marquezine nas horas vagas.

- E o PT vive em festa. Quando não é com o dinheiro público, é pra comemorar que já fazem 10 anos que pintam (e bordam) o Brasil de vermelho. Um minuto de silêncio.

- Sempre sou da opinião que o "fazer pensar" é perigoso. Dá uma sensação de "quero que você pense exatamente como eu". Prefiro, ao tomar conhecimento de um ponto de vista diferente, tirar minhas conclusões e pensar por mim mesmo.

20.2.13

Não quero saber


Agora virou moda nas redes sociais. Tem gente postando "notícias" que "afirmam" a existência de extraterrestres na Terra, e que o governo norte-americano, obviamente, sabe de tudo e esconde entre oito paredes as verdades da inculta população.
E eu venho através desse inotório texto clamar ao Sr. Obama: continue escondendo, por favor.
Não tenho o menor interesse de saber se existem ET's, naves espaciais ou qualquer forma de vida extraterrestre. Não preciso disso para ser feliz ou me acrescentar algo.
Sinceramente, o mundo já é grande demais e cheio de gente demais para que eu tenha que me preocupar com quem é da vizinhança.
Se algum cabeçudo verde cair novamente em Roswell, no sul de Minas ou na região central de Kosovo, favor desconsiderar a possibilidade de divulgação.
Não entendo a necessidade cabal de saber tudo, de ter consciência de tudo. As particularidades dos humanos já nos rendem notícias todos os dias, dignas de serem vindas de Júpiter  então pouco mudaria a minha concepção de loucura ou distinção. Os terrestres já nos causam experiencias extraterrestres suficientes e além do medo de sair na rua e sofrer um assalto não preciso do medo de ser abduzido ou levar um disparo de raio ultra-congelante.
Enfim, não abram nenhum arquivo, não programem coletiva de imprensa e permaneçam em silêncio. Deixe-me cuidar da minha vida pois já existe a CIA, o FBI ou seja quem for pra tratar disso. Tenho coisas mais importantes.
ABRAM OS ARQUIVOS!! ABRAM OS ARQUIVOS!! Não, obrigado. Não quero saber.

19.2.13

Janela para o passado


Senhor Leví, homem de grande grandeza e avareza, passou as tardes de segunda e terça contando e relendo as cartas velhas e amarelas da adolescência. Eram tantas amizades que nem se lembrava mais. Não conseguia jogar fora nenhum dos velhos rabiscos de seu passado, que era tão diferente e tão longe, agora que se sentia velho e sem amor.
Ficava pensando se poderia ter se casado com uma das remetentes. E poderia compartilhar sua casinha nos fundos da praça Damásio, perto do posto de gasolina. Quando enjoava das cartas, gostava de ficar na janela, olhando o dia virar noite, e as mocinhas que passavam e lembravam seus tempos de escola. A quina do armário da cozinha remetia à trave do gol do colégio Madrepérola, onde se formou e nunca mais voltou. Sentia falta das aulas, de ler, de ver utilidade em viver. Já se passavam tantos anos desde as últimas felicidades, que ele já nem se lembrava muito do que havia esquecido…

18.2.13

Quando Nelson Rodrigues me falou


"O ser humano é o único que se falsifica. Um tigre há de ser tigre eternamente. Um leão há de preservar, até morrer, o seu nobilíssimo rugido. E assim o sapo nasce sapo e como tal envelhece e fenece. Nunca vi um marreco que virasse outra coisa. Mas o ser humano pode, sim, desumanizar-se. Ele se falsifica e, ao mesmo tempo, falsifica o mundo."
Nelson Rodrigues (27/12/1967)

Estou lendo uma coletânea de crônicas do gigante Nelson Rodrigues. Comecei a ler como curiosidade, afinal, nunca tinha tido muito acesso ao seus textos. E fui literalmente consumido. Deixei outros livros de lado e leio Nelson no ônibus, no trabalho, andando, sentado. A forma na qual ele conta seu infantil cotidiano carioca na década de 1910, conversas, bares, funerais. A linguagem de Nelson Rodrigues me encanta. A forma despojada, cínica e ao mesmo tempo elegante me incentivam bastante agora nos novos rumos tomados.
Me inspiro em quem fez diferente, em quem faz. Me canso do repetido, do já lido. Jamais terei uma mente como a de Nelson, Paulo Francis, Millôr ou Ivan Lessa, mas uso a escrita destes mestres como forma de tentar fazer algo distinto, que se separe do incontagiante padrão politicamente correto, quando nada mais se pode dizer, brincar ou reclamar.
Faz sentido todos os citados já terem partido para outra, afinal, enquanto a escrita se torna monótona, emburrecemos, perdemos luz, e isso só pode ser bom para quem não gosta de ler/ouvir a verdade, e extremamente ruim para quem insiste em pensar diferente.

17.2.13

Dis Correndo

Aqui está de novo o espaço branco para ser completado. Desfigurado por palavras vai ficar o vazio perfeito em seu objetivo, de não explicar nada. Penso grande e vivo pequeno, esperando os grandes passos e pequenas mudanças. Não vou ficar arrancando as plantas que vão nascer de novo. Eu queria parar de me incomodar com o que incomoda. E simplesmente viver sorrindo do sarcasmo que existe nos outros serem eles mesmos, com seus medos, deselegâncias e falta de respeito para com qualquer coisa. O medo de sair na rua é evidente por todos todos os dias, mas medo maior daria ainda não ter a rua pra chegar naquela esquina esperando pela fotografia perfeita, que será guardada para sempre e revista todos sábados a noite, quando as familias se reunirem e for percebido que a paisagem mudou, e o tempo só correu.

16.2.13

Sem Tidos Ví

Ao acordar percebi perder o rumo. Os caminhos estavam confusos, perdidos em vilas escuras onde já não havia plantas na janela. Sonhando ou não, simplesmente me coloquei a correr para onde meus olhos estivessem cegos. O medo de bater a cabeça era menor que a vontade de ser louco, enfim. As pessoas opacas nas margens me olhavam pasmas, como se estivessem surpresas com o que viam. Enxergo novamente a rua cheia de nuvem, branca, feito algodão doce velho, onde eu poderia tocar as estrelas que deveriam estar alí. De repente acordei, e voltei para a rua. Já não sabia se era sonho frio ou cama quente. Era um vácuo entre a ironica realidade e a desfenerada alucinação. O olhos estavam abertos e fechados. Eu viajava e voltava para onde quer que eu estivesse. Parado, entre lençois e paredes, me coloquei a pensar dentro do sonho, ou da vida. Já não tenho coragem de dizer o que pensei. Na verdade nem sei onde estava. Insano.

15.2.13

Diários da mente

Fico imaginando se pudéssemos registrar tudo ou quase tudo do que pensamos, em tempo real, sem netbooks ou afins. Um livro mental, capaz de incluir tudo que achassemos viável para ir pro papel. Dentro da mente de muitos, pode-se passar idéias para livros, textos magníficos, que se perdem pela escuridão da memória apagada pelo tempo que se foi. Obviamente para as editoras seria muito mais trabalhoso editar livros de tudo que alguém pensa. Mas nem gostaria mesmo que pensamentos soltos fossem parar em estantes, e nem teriam o porque. Tudo que eu realmente queria, era não perde-los.

14.2.13

Das viagens noturnas

Os traços brancos no centro da pista vão ficando para trás aos milhões, causando tontura e uma sensação de que tudo corre.
A janela não abria, então era impossível sentir o vapor da noite, com seu cheiro selvagem e frio. Músicas escolhidas especialmente pareciam serem tocadas pelos deuses da escuridão que coloria de preto o céu e a paisagem lá fora.
O destino ia se aproximando e fazendo as expectativas acontecerem de forma mais viva. A distancia restante não causava desanimo, tampouco desconforto. Era como se aqueles minutos estivessem cumprindo um papel importante para o decorrer da vida. Estradas noturnas são como um pit-stop em uma corrida de carros, onde o combustível real são pensamentos e inspirações para o transcorrer dos dias.
Com o tanque cheio e a máquina fotográfica a estrada segue correndo, ficando para trás, nos levando para frente, onde bem quiser.

13.2.13

Negativas

Pessoas são como vasilhames, daqueles que ficam nas estantes da cozinha. A diferença é que cada qual pode colocar dentro de sí o que bem entender. Algumas optam por se encher de sentimentos negativos. Eu as chamo de negativas. Passo ao lado delas e sinto aquele calafrio estranho, mas no segundo seguinte lembro-me do que há de maior, e simplesmente as ignoro. Dentro de mim costumo deixar apenas o que considero razoável, no sentido mínimo. Deixo o negativo para as negativas.

12.2.13

O Estranho começo

Tudo que existe e ainda irá existir um dia terá ou teve um começo. Isso se aplica a uma vida, um livro, ou simplesmente uma página de internet. Só que é difícil saber onde começa e termina o começo. Como dizer se após dez páginas escritas o começo de um livro já se esgotou? E como afirmar que uma pessoa de quarenta anos ainda não estará no começo da vida? Julgamos tudo pelo que a história nos conta. Se vivemos em média oitenta anos, o começo se torna curto, mensurável. Mas ninguém poderá saber um dia a medida do que sentimos. Exemplos para isso são jovens na chamada terceira idade, ou velhos adolescentes. Não é uma simples questão de ciência, mas sim uma questão de saber em que parte de sua história você realmente está.
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Originalmente escrito em 19/06/2010.

11.2.13

Os piegas e os loucos


Todos os dias somos confrontados com o mundo. Nossos valores, costumes e personalidade enfrentam batalhas diárias contra o que existe lá fora e não faz parte de nós. Cada ser se define de uma forma, e gosta de ser definido de um determinado jeito. Até mesmo aqueles que querem parecer mais livres se definem como "indefinidos". Isso também é definição, além de um pouco de falta de identidade.
Vivo rotineiramente em contato com uma sociedade cheia de desvios, cheia de problemas morais. Não gosto de vida noturna agitada, de afogar mágoas em garrafas alcoólicas, de usar drogas ou andar pelas ruas vivendo uma vida de libertinagem. Desde pequeno a vida foi entre os muros de casa, com a família, ou na solidão acolhedora do aposento próprio. E essas características caminharam comigo até hoje, na vida séria, adulta. Talvez sendo até mais piegas do que quando infantil.
Mas apesar da rota seguida orgulhosamente, seja filosófica ou politicamente falando, alguns cenários de vida são extremamente sedutores perante a normalidade. Um dos maiores exemplos disso no meu caso são as obras do escritor beat Jack Kerouac.
A escrita de Kerouac, em romances muitas vezes autobiográficos chama a atenção dos olhos mais caretas que o possam ler. A sensação de liberdade, o despudor e a forma contagiante com que escreve faz com que aquele que lê desejasse um pouco aquela vida sem responsabilidades, perdida pelas ruas de São Francisco, onde as preocupações maiores são beber e escrever sobre a bebedeira de ontem.
Os locais frequentados, cenários muitas vezes de exibições horrendas de bêbados se pegando, sexo explícito e uso constante de drogas tornam-se atraentes justamente pela total ausência destes na rotina diária de uma pessoa, em tese, conservadora. A existência de limites autoimpostos traz consigo a ideia do errado, daquilo que não deve ser feito, por questão própria de princípios. E esse errado, mesmo que mentalmente, é passível de desejo e imaginação.
Particularmente, a faceta viajante da obra do escritor franco-americano é a que mais me chama atenção. As viagens, com poucos centavos no bolso, sem destino muito definidos, na dependência de caronas das mais variadas pessoas, arrumando trabalhos sazonais para subsistencia pelo caminho, para um apaixonado por viagens, é meio caminho andado para eclodir pensamentos pessoais nessas situações, muito provavelmente inspirando pessoas pelo mundo a fazer algo parecido.


A vida é denominada como chata e maçante por muita gente, com seus trabalhos e problemas pessoais, e ter ao menos na literatura beat de Kerouac uma forma de pensar livre é algo reconfortante. Ler realmente é viajar.
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*Na primeira foto, o escritor Jack Kerouac.
*Na segunda foto, a região do Big Sur na Califórnia (EUA), palco de um de seus melhores livros.

10.2.13

Micareta no DF tem abadá de gravata

A sujeira apareceu
Alguém varreu
Quer fazer sumir
Evidência inconteste

Foi lá na capital
Que teve bandido na liderança
Era tanta a lambança
Fico triste só de contar

Gente condenada eleita
Por gente muito suspeita
Interesses pessoais
São os que importam mais

E eu vivo assim
Esperando a próxima eleição
Pra descobrir qual será o figurão
Que nosso dinheiro vai levar

Enquanto o imposto sobre
A moral só desce
E esses bandidos de gravata
Daqui a pouco a gente esquece

A folia rola solta na Bahia
Mas deixa eu te contar
As melhores orgias estão em Brasília
O senado tá aí pra provar

9.2.13

Outros carnavais

Lembro-me dos trios elétricos passando pela avenida da rodoviária, a maior da cidade lá na terra onde nasci. Os blocos corriam contra o tempo para se animarem e animar a todos. Parentes de longe iam passar o período de parada nacional na cidade natal. Salsichão, churrasquinho, churros e muitos doces (a cocada era minha favorita). Uma fábrica velha de um lado, do outro a cidade, um hotel, o supermercado fechado servia de encosto dos passantes. Tudo tão simples e deixado tão longe. O trailer de lanche perto da ponte, o hamburguer sem milho, a Fanta Uva. Gente sentada na calçada, namorados, pais, filhos. Quase meia noite era o limite da hora de ir pra casa. Antes ainda, posso pegar um algodão doce?
Em casa, nenhum cansaço, na TV, o mesmo de sempre para não ver.
São as melhores lembranças que a festa do fevereiro me remete. Hoje em dia prefiro o sossego, a solidão. Uma sacada na madrugada, uma música alheia ao longe, um hotel com duas janelas iluminadas, carros misteriosos passando pro interior e para a estrada.
Um livro, um sono, um colchão. E a necessidade pujante de paz mental, longe de máscaras e confetes.
Longe das festas que pelo Brasil aumentam níveis alcoólicos no sangue do povo, diminuem a audição dos que seguem violentos trios com suas letras etílicas gritadas e do sexo disposto em cada esquina ou em cada canto. Enquanto a massa nacional busca no Carnaval a permissão para a folia, eu peço permissão para ler e lembrar da minha infância. Gosto bem mais do meu estilo, particularmente.

28.1.13

Das luas que colorem de branco o negro desconhecido

Tenho me inspirado muito na lua, enxergando noites invisíveis. Imaginando loucuras em subúrbios frios e esquecidos pela madrugada. Sinto como se parte do meu cérebro fosse como a noite, sempre escura, misteriosa, que causa receio e medo de algo inesperado. É sempre pelas noites que ocorrem os mais tristes desfechos, os crimes mais perfeitos, os discursos de amor mais inspirados.
A luz do sol impede que possamos pensar com a profundidade que a lua nos permite. Já imaginou a luz da lua no fundo do mar? Pense na impossível cena de sermos alma de um ser dos oceanos, e lá da mais abissal profundeza enxergarmos o reflexo lunar cortando o fundo do mar de acordo com a vontade da maré. Pense naquela solidão, na escuridão tenebrosa e sem solução, um deserto de cachoeiras submersas, barcos enferrujados e seus copos cheios de areia, tendo como companhia apenas a doce sensação de se estar em um lugar onde nada há. além da luz da lua lá fora. Pense.

19.1.13

Palavras sobre o escrever


" A verdade está em alguma parte: mas inútil pensar. Não a descobrirei e no entanto vivo dela."
(Clarice Lispector)

Escrever é forma de traduzir sentimentos vivos numa folha de papel. É tentar transcrever trechos desde vazio até o intenso trânsito de pensamentos dentro de uma mente que vive o mundo.
Escrever é libertação, é vida, é papel, caneta e emoção. Ou loucura, que baseia a ficção, tornando-a realidade. É falta de lucidez e total sensibilidade, para tudo e para todos. É buscar o que não se sabe, ou entender aquilo que pensamos saber. É crer, ver e observar com outros olhos.
Escrever é simplesmente deixar sair, deixar as mãos comandarem ao menos uma vez o que se passa dentro do profundo submundo de um ser humano, jogando pra fora mágoas, tristezas, alegrias, planos, devaneios, idéias, vontades. É ser ao menos uma vez o que nunca somos, e sempre tentamos ser.
Escrever nos impede de mentir, ao menos pra mim. Não escrevo o que não penso e sinto, minhas mãos param, meus olhos fecham, minha mente sangra e meu corpo estremece. Não posso ser o que não sou, pois já me esforço pra ser somente eu.
É deixar a verdade falar mais alto, apenas na simplicidade do pensar e sentir, e dessa forma as palavras vão se encontrando, com rumo própio, nós apenas as fixamos na matéria.
Escrever, como já dito, é vida, como palavras correndo nas veias. É a busca incessante por algo que não sabemos, porém descobrimos.
Escrever é arte, é sangue, emoção e lágrimas caindo no papel, em qualquer forma, ou em forma nenhuma.
Escrever é tudo, e nada, escrever, nada mais é do que ser, e saber, tudo que somos e ainda podemos ser.
Escrever é como nascer, crescer e morrer... escrever, é como viver!
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Texto publicado originalmente em 16 de novembro de 2006, no blog Ensaios sobre a vida: Link